domingo, 7 de setembro de 2014

para se chegar ao novo velho mundo

Assim que entrasse no avião e encontrasse meu assento, choraria tudo o que não havia chorado. Ou choraria nas despedidas. No aeroporto, talvez. Ao dizer tchau pra minha gata. Fazendo as malas?

Hum.

Não chorei. Na verdade fiquei feliz com as despedidas no aeroporto, porque julgava que ninguém iria dar tchauzinhos numa segunda-feira pela manhã em São José dos Pinhais. E foram quatro pessoas, veja só, das mais queridas na minha vida. Entrei tranquila na sala de embarque e assim permaneci. Tudo muito natural. Passos firmes e suados pelo excesso de roupa.

Eu quase chorei mesmo quando me dei conta de que estava sentada em uma caixa de metal, a mais de 10 quilômetros de altura e 850/h de velocidade, atravessando todo um oceano. Não consegui dormir. A cada vez que começava a cochilar, acordava assustada achando que o avião estava caindo. Todos os pensamentos e respirações em que pude pensar pra me relaxar (incluindo o de que uma hora todos vamos morrer de qualquer jeito, de que adianta me incomodar?) falharam. Bebi champanhe, comi pesto, gritei que era rica: nada. Até o Dramin falhou. E sono não era exatamente o que o comissário de bordo mais bonito do mundo me dava.

Ao anunciarem a descida a Paris confesso que meu coração-clichê ficou mexido. Vi a torre Eiffel ao fundo e surgiu um "estou aqui... caralho, eu realmente estou aqui" em loop mental. Sorria e ouvia. Mostrei a torre para a moça que viajou ao meu lado e que pediu que eu andasse um pouco porque era perigoso passar tanto tempo sentada (heh, não me diga. Por causa de trombose?). Achei o dia nublado mais bonito dos últimos tempos.

O Charles de Gaulle é monstruoso e demoramos uma meia hora pra chegarmos até a área de desembarque, ziguezagueando por aviões e depósitos. Ao final do trajeto nos deparamos com um lance de escadas e ouvi "depois o Brasil que é atrasado" atrás de mim. Concordei. Escadas não são a escada para o sucesso. Ter um aeroporto faraônico para receber os seus milhões de turistas é aviltante. Você deveria se envergonhar, França.

Passei pela imigração, me fizeram tirar as botas e tudo o que tinha na minha malinha, me encantei com o banheiro e pensei que poderia morar ali (espaço de sobra e privada já tinha). Arrisquei um bonjour bem baixinho pra não passar vergonha. Tentei tirar fotos, mas a bateria do celular já dava seus últimos suspiros. As tomadas francesas não foram amigáveis e me obrigaram a ficar numa posição Cirque du Soleil (eu sei que é canadense, respira) para conseguir 5% a mais de vida. Desisti e desliguei. Pesquei. O voo para Amsterdam não demoraria muito.

Não me lembro muito do voo porque meu cérebro desistiu de funcionar. Várias pessoas falaram comigo em francês, eu fazia cara de bolinho encabulado. E então voltei à terra firme.

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O cansaço era tanto que precisei de uns 25 minutos pra achar a esteira certa e pegar minhas malas. Tanto, que nem consegui ficar muito incomodada quando vi que uma delas voltou aleijada. Tanto, que nem tive ânimo de procurar a loja certa pra comprar o chip do celular ou a de maquiagem em que precisava ir. Só liguei o automático e fui. Ou melhor, depois de lutar um tanto pra conseguir comprar o cartão do trem e de descobrir como pagá-lo e como a rispidez holandesa funciona, fui.

E eu fui no vagão errado. Entrei sem querer no da primeira classe, carregando 3 malas sozinha, e o trem partiu. Porra. Perguntei se havia como ir até o vagão certo por dentro e o Moço Solícito me disse que sim. Então percebi que as minhas malas pesadas não passavam entre os assentos. E o cansaço era tanto...

Suava, xingava baixinho. Depois de uma curta batalha desisti e me joguei numa poltrona; em um timing perfeito, o cobrador surgiu. Expliquei que entrei no vagão errado por engano, I don't even wanna be here!, Moço Solícito confirmou a história. E lágrimas obesas começaram a cair sem parar. I'm so sorry!, e água, I've been travelling for a whole day, I'm so tired!, água, água, água. O cobrador sequer ficou irritado comigo e tive a impressão de que Moço pagou a diferença da passagem. Mas eu não conseguia evitar o choro. Finalmente.

Demorei vários minutos até me recompor. Moço disse pra que dormisse, que ele me avisaria quando chegássemos na estação de Ede-Wageningen. Não dormi. Tentei tirar algumas fotos e não havia inspiração. Eu só queria... sei lá o que diabos eu queria.

Ao estarmos próximos à estação, moço levou minhas malas escadas acima. Ao chegarmos, tirou minhas malas rapidamente, mesmo sob meus protestos. Agradeci o máximo que pude e ainda assim acho que não foi o suficiente. Moço Solícito, apesar de eu achar que você fez piada de mim com a Moça Não Solícita que estava contigo, eu agradeço a sua gentileza do fundo do meu coração.

Ede me recebeu nublada e com garoa - até ali podia ser Curitiba -, Cynara me recebeu com um abraço brasileiro e uma primeira foto em terras holandesas. Então fomos para sua casa em Bennekom, outra mala se liquefez no caminho, conheci o Rafael, tomei banho, jantamos, pus o meu pijama novo e esqueci o mundo.

Erm, oi, Holanda...?

2 comentários:

  1. Falei esses dias pro Wyllian que sua ida para Holanda era o mais próximo que já estive de alguém que teve coragem de passar esses meses fora estudando. O pessoal glamouriza isso bastante, mas é sofrido desde o começo. Acho que a parte mais difícil é entender: essa coisa boa tá mesmo acontecendo comigo! E apreciar!

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  2. Fiquei imaginando suas caras e bocas enquanto lia... mas te entendo, a ficha demora a cair em perceber que estamos morando noutro país. Quando o avião pousa e você começa a se perguntar "o que estou fazendo aqui?" e precisa respirar fundo, levantar a cabeça e seguir em frente. Por isso aproveite bastante, deguste todas as coisas gostosas que puder (cervejas e afins) and be happy! E não deixe de nos contar mais histórias ;)

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